Iceberg
Não sei em que momento parei de olhar pela janela desse carro em movimento modelo vida, contemplando a paisagem, e com a mente lúdica, desenhado no vidro embaçado. Mas em algum momento parei. 24 horas são pouco pra assimilar as 24 mil informações que o cérebro (não) recebe. De relance, quando penso no que gosto e no que odeio, não encontro corpo. Encontro partes. A vida e os seus charmes se encontram numa tela de rolagem infinita, onde o meu dedo é vilão. Ainda assim, me sinto mocinho.
Resolvi parar o dedo. Congelar o dedo. Petrificar o dedo. Quero mergulhar em mim pra me desafogar do sistema. Ir até o chuí desse iceberg chamado eu, que EU pareço conhecer só a ponta. Eu quero decorar aquele monólogo que amo. Ouvir cada vibração daquele álbum. Entrar em psicodelia nas notas do João Gilberto. Ver mais mil vezes aquele filme do Spike Jonze. Nada novo. Nada que eu precise saber mais do que já sei, apenas o que já sei, só que forte. Isso sim, preciso petrificado. Um iceberg não coberto. Um iceberg que levita. E não tem pânico algum de derreter.
Nicolas
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